Apresentação geral
por
M.J. Lemos de Sousa1,2, M. Telles Antunes1 e Ana Salgado1
1 Academia das Ciências de Lisboa
2 Unidade de Investigação UFP em Energia, Ambiente e Saúde (FP-ENAS), Universidade Fernando Pessoa, Porto
1.O que é e para que serve um thesaurus?
A maioria dos autores coincide em considerar um dicionáriocomo obra de referência de uma língua, de equivalência entre línguas ou, ainda, de um determinado
domínio ou especialidade científica, técnica ou artística. No caso de um dicionário, é de regra que, para cada vocábulo ou termo registado, se apresente(m) o(s) significado(s) e definição(ções) respetivo(s) e as eventuais diferentes aceções em que o vocábulo seja utilizado.
Já quando se trate dum inventário ou dicionarização inespecífica de unidades lexicais duma língua, a maioria dos autores opta pela designação geral de vocabulário, e por glossário ou léxicopara nomear o inventário lexical de um texto ou de um córpus textual delimitado, ou ainda de um domínio especializado das Ciências, das Letras ou das Artes, o que coincide, de certo modo, com a aceção corrente de elucidário.
Os glossários ou léxicos ou vocabulários são recolhas lexicais que complementam obras de fundo ou cursos temáticos. São geralmente acrescentados em apêndice, mas podem também ser publicados autonomamente.
Por fim, reserva-se, a designação de thesauruspara a inventariação, tanto quanto possível exaustiva, das terminologias científicas e técnicas, por domínios de
referência. Os Thesauri servem de classificadores ou indexadores de toda a informação especializada; são frequentemente plurilingues, e podem aceitar informação complementar, metalinguística ou sobre o referente, com ilustrações e outros
recursos gráficos mobilizados pela comunicação especializada.
O Thesaurus tem um estatuto lexicográfico sui generis, interlinguístico e translinguístico. Interlinguístico porque procura corresponder à universalidade da ciência
e da técnica, superando a diversidade das línguas e valorizando a convergência
da informação no conhecimento global. Paralinguístico porque pode integrar fórmulas e subsistemas de sinais que sobressaem da estrutura normal da comunicação linguística. Nesta publicação, o registo lexicográfico pode abranger informação iconográfica e, eventualmente, cifras e anotações suplementares.
2. O Thesaurus que agora estamos organizando corresponde a um glossário ou léxico tendencialmente exaustivo, no âmbito das Ciências da Terra. E, embora se
destine a ser editado autonomamente, dada a extensão e a diversidade das matérias envolvidas ― o que, por sua vez, obriga à constituição de vários grupos de
trabalho especializados ― a obra foi planeada para ser publicada, em primeira
aproximação, em volumes autónomos, tratando, separadamente ou em associação, as seguintes áreas temáticas (siglas correspondentes entre parêntesis):
–Ambiente, Ordenamento do território e Património geológico (AOTPG)
–Cristalografia e Mineralogia (CM)
Thesaurus de Ciências da Terra 4
–Estratigrafia (E)
a) Estratigrafia geral (E/G)
b) Terminologia usada nas Escalas estratigráficas (E/EE)
–Estratigrafia sequencial (ES)
–Geoquímica inorgânica (G)
–Geomorfologia (GEO)
–Geofísica (incluindo a Sismologia) (GEOFS)
–Geotecnia (GEOT)
–Geologia e Medicina (GeM)
–Geologia marinha (GM)
–Geologia dos sistemas petrolíferos (convencionais e não-convencionais) (GSP)
–Hidrogeologia (H)
–Mineração (M)
–Petrologia (P)
a) Petrologia das Rochas ígneas (P/RI)
b) Sedimentologia e Petrologia das Rochas sedimentares (não-orgânicas)
(P/RS)
c) Metamorfismo e Petrologia das Rochas metamórficas (P/MPRM)
–Paleontologia (PA)
a) Paleontologia geral (PA/PG)
b) Paleontologia/Paleobotânica (PA/PB)
c) Paleontologia/Paleozoologia (PA/PZ)
d) Paleontologia/Palinologia (PA/P)
e) Paleontologia/Micropaleontologia animal (PA/MA)
–Petrologia e Geoquímica orgânicas (PGO)
–Pesquisa, Exploração, Tratamento e Utilização de combustíveis fósseis (PETU-CF)
–Recursos/Jazigos minerais (RJM)
–Tectónica e Geologia estrutural (TGE)
–Termos gerais (TG)
–Vulcanologia (V)
Com efeito, o trabalho em curso corresponde, como se apontou, a uma primeira aproximação, sendo que os diversos volumes terão, por vezes, organização bastante diferente atendendo à diversidade das matérias tratadas a nível das áreas temáticas. Por outra parte, a lista das áreas temáticas agora apresentada não é rígida, podendo o avanço dos trabalhos vir a aconselhar eventuais ajustes.
Em todo o caso, cada um dos volumes temáticos será constituído nesta primeira aproximação por uma listagem das terminologias, por ordem alfabética, dos lexemas ou dos sintagmas nominais, ou seja, dos vocábulos e expressões, em português a que se segue o termo equivalente em inglês e/ou em outras línguas.
Quando seja o caso, registar-se-ão, também, as variantes conhecidas e em uso no Brasil. Quando se justifique, serão, outrossim, aditadas notas explicativas.
Por fim, esclareça-se que a organização e a metodologia ideadas têm em vista
serem eminentemente práticas permitindo, por um lado, melhor desenvolvimento
e avanço dos trabalhos e, por outro, a sua edição e divulgação à medida que cada
área temática – tratada por diferentes especialistas – for considerada pronta para
dar à estampa sem ficar sujeita a esperar que as demais estejam terminadas. O
esquema apontado implicará, sem dúvida, repetição de alguns vocábulos ou expressões em diferentes volumes. No entanto, tal facto, quando ocorra, não cons-
Petrologia e Geoquímica Orgânicas 5
titui um inconveniente. Pelo contrário, permitirá, desde logo, registar as diferentes
aceções em que alguns termos são usados no âmbito das Ciências da Terra,
dependendo do domínio especializado em que se utilizem, o que constituirá uma
vantagem na altura em que se venha a preparar um Thesaurus único de Ciências
da Terra, em português, integrando e homogeneizando os vários volumes temáticos.
O conjunto do trabalho, desenvolvido no âmbito do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, será coordenado pelos editores, sendo autores dos diferentes volumes os especialistas
que forem convidados para colaborar na fixação da terminologia na área temática
respetiva.
3.No decurso da preparação do presente trabalho, foi feito um levantamento dos
principais dicionários, glossários, léxicos e vocabulários publicados em português,
em Portugal e no Brasil, no domínio das Ciências da Terra e afins, tal como constam da lista bibliográfica inserida no final desta apresentação. A elaboração das
terminologias científicas, neste e em outros domínios, tem uma remota tradição
na língua portuguesa e tem sido objeto de investigadores e filólogos (Boléo 1976,
Verdelho 1994, 1998).
O conjunto bibliográfico apontado representa um trabalho assinalável, embora de
qualidade e interesse extremamente variados. No que respeita à indexação do
conhecimento correspondente às Ciências da Terra, o primeiro dicionário sobre o
conjunto então designado por História Natural foi dado à estampa pela Universidade de Coimbra em 1788, sendo da autoria de Domingos Vandelli, lente da mesma
universidade. Foi logo seguido da divulgação de um outro vocabulário, referindo
não poucos termos do foro mineralógico, publicado em apêndice aos Elementos
de Metalurgia da autoria do lente Manuel Barjona, também da Universidade de
Coimbra e saídos dos prelos da mesma em 1798.
Saliente-se, ainda, que, em termos contemporâneos, para além de bons e úteis
glossários temáticos (amonoides, braquiópodes, foraminíferos, palinomorfos e
geomorfologia), sobressai, pela qualidade, acribia e estudada ciência, a obra geral intitulada Vocabulário de Termos Geológicos, coordenada por Carlos Teixeira,
inicialmente publicada (em fascículos e em fichas) pelo Centro de Estudos de
Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa. Por encargo de Carlos Teixeira,
esta tarefa foi benevolamente iniciada, em 1959, por um de nós (M. Telles Antunes) e, mais tarde, continuada por Francisco Gonçalves que viria a coordenar a
edição, já no âmbito da Academia das Ciências de Lisboa, após o falecimento de
Carlos Teixeira. Infelizmente, o passamento de Francisco Gonçalves entretanto
verificado teve como consequência que o último fascículo publicado correspondeu
à letra L, sem que tenha sido editado o fascículo relativo à letra C. É, pois, este trabalho de mérito que nos propomos agora continuar, muito embora com conceção
e formatação muito distintas, sendo que para atingir tal desiderato nos propomos,
precisamente, desenvolver a metodologia acima exposta, iniciando a tarefa pela
seleção e fixação atualizada dos termos tendo em conta os desenvolvimentos
científicos e tecnológicos entretanto verificados. O critério a seguir na tarefa que
nos impusemos será, pois, de continuar no caminho apontado por Carlos Teixeira
na “Introdução” ao volume correspondente à letra A do Vocabulário de Termos
Thesaurus de Ciências da Terra 6
Geológicosadiante listado, isto é, o de evitar “estrangeirismos mal sonantes ou
traduções disparatadas” sem, contudo, cair no exagero de ver em tudo um “galicismo abominável” na expressão do mesmo autor.